domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cães e Gatos

Teimosamente equilibrado num ramo da figueira, Chanina espreguiça ao sol uma caçada proveitosa. Buia-Buia, irrequieto, corre entre o alpendre e o quintal:

-Chanina! Chanina! Acorda!

De soslaio, Chanina observa esta inquietação: “Cão tolo! Ainda é muito cedo! Soube esperar um ano, não sabe esperar um minuto….”. Permanece um tufo laranja entre as mãos verdes e os pingos púrpura que enfeitam a figueira.

Buia-buia, resolvido, avança para o portão:

- Chegaram! Já cá estão!

Pulando ansioso, Buia-buia acompanha alegremente o automóvel que se introduz na estrada de cascas de amêndoa.

Dia quente, como todos os dias quentes, cheiro a alfarroba e terra barrenta, cheiro seco e adocicado, cheiro de infância. O restolhar dos pneus na estrada de cascas, o barulho do motor, e por fim, apenas os latidos de Buia-buia, e as cigarras a cantar ao longe.

- Chegamos! Buia-buia, meu cãozinho!

E uma mão um ano mais crescida afaga-lhe suavemente a cabeça, balançado as orelhas pendentes entre os dedos.

- Adeus, meus netinhos! Adeus!

- Ainda agora chegamos, avó Nuna! Já te estás a despedir?

- É jeito! Tinha tantas saudades vossas! Fizeram boa viagem?

A viagem é sempre longa demais para a impaciência de quem quer voltar. Jorge aprendeu que perguntar se Ainda falta muito? não apressa o caminho, e já não repete vezes sem conta esta frase. Agora, conta os quilómetros, colecciona placas identificativas, alvoroça-se quando “Algarve” aparece.

Finalmente é Verão!

Inspira profundamente, preenche-se de ouro quente.

Os pais abrem a comporta ao desfile de malas e sacos de praia repletos não de toalhas, cremes e baldes, mas de vigor e simplicidade.

A irmã saltita no pátio, já descalça, agitando um ramo do seu chá preferido: “Bela Luisa, como eu!”. Uma osga teme terminado o seu descanso ao sol, contra as grossas paredes caiadas. Ponderada a situação, introduz-se entre as telhas da casa.

- Onde anda o Chanina, avó?