quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

cheers darling!

odeio precisar.
odeio a sensação de falta.
não falta como ausência, falta como dependência.
odeio o vazio que deixas.
não faz sentido esta ansiedade,
não faz sentido esta busca cega.
livre deste buraco negro que me absorve,
um brinde!
a mim, eu, só!
um brinde!
a ti, tu, wherever...

whatever!

cheers, darling!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

C&G

Não fazia sentido, e era uma hipótese que nem colocava... Queria Luísa acreditar. Na verdade, a proposta parecia tentadora, e naturalmente provaria a si e ao mundo que estava certa. É simples estar certo, quando nos limitamos a assistir, e no fim vaticinar. Era na profecia do futuro que já adivinhava falhar que Luísa apostava agora.
- Estragas sempre tudo!
E não tinha retorno. Também, não havia investimento. E assim era mais fácil empacotar os últimos 12 meses, de outros 12 meses. Umas quantas peças de roupa, livros, o portátil, e recordações que cabiam em duas caixas de cartão. Trouxera tanto das suas posses como de si para aquele apartamento, para aquela relação.
- Estragas sempre tudo…
Mas já não havia mais nada para estragar. Aquela madrugada tinha sido mais clara que as outras.

Regressado da praia, Jorge dispõe sobre o muro a sua colecção de conchas. Perfila-as por cores, por tamanhos, por preferência. Alinha e desalinha, enquanto a irmã observa.
- Porque estás sempre a misturar as conchas?
- Não estou a misturar, estou a ordenar.

C&G

- É um gato, que esperas? Tão cedo não o vês.

Mas Luísa já se entretinha na cisterna, observando um grilo morto a ser desmontado por uma eficaz fábrica de formigas. Uma linha continua de hercúleas minúsculas criaturas em dois sentidos percorria a cisterna, do grilo ao buraco, do buraco ao grilo. Luísa criava obstáculos, tentando desmobilizar esta continuidade.

- Anda ver! As formigas estão a comer um grilo morto!

- Que nojo, blargh! Chega-te para lá, também quero pôr uma pedra aí, a ver se conseguem passar!

- Não! Quem descobriu o grilo fui eu! Estragas sempre tudo!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cães e Gatos

Teimosamente equilibrado num ramo da figueira, Chanina espreguiça ao sol uma caçada proveitosa. Buia-Buia, irrequieto, corre entre o alpendre e o quintal:

-Chanina! Chanina! Acorda!

De soslaio, Chanina observa esta inquietação: “Cão tolo! Ainda é muito cedo! Soube esperar um ano, não sabe esperar um minuto….”. Permanece um tufo laranja entre as mãos verdes e os pingos púrpura que enfeitam a figueira.

Buia-buia, resolvido, avança para o portão:

- Chegaram! Já cá estão!

Pulando ansioso, Buia-buia acompanha alegremente o automóvel que se introduz na estrada de cascas de amêndoa.

Dia quente, como todos os dias quentes, cheiro a alfarroba e terra barrenta, cheiro seco e adocicado, cheiro de infância. O restolhar dos pneus na estrada de cascas, o barulho do motor, e por fim, apenas os latidos de Buia-buia, e as cigarras a cantar ao longe.

- Chegamos! Buia-buia, meu cãozinho!

E uma mão um ano mais crescida afaga-lhe suavemente a cabeça, balançado as orelhas pendentes entre os dedos.

- Adeus, meus netinhos! Adeus!

- Ainda agora chegamos, avó Nuna! Já te estás a despedir?

- É jeito! Tinha tantas saudades vossas! Fizeram boa viagem?

A viagem é sempre longa demais para a impaciência de quem quer voltar. Jorge aprendeu que perguntar se Ainda falta muito? não apressa o caminho, e já não repete vezes sem conta esta frase. Agora, conta os quilómetros, colecciona placas identificativas, alvoroça-se quando “Algarve” aparece.

Finalmente é Verão!

Inspira profundamente, preenche-se de ouro quente.

Os pais abrem a comporta ao desfile de malas e sacos de praia repletos não de toalhas, cremes e baldes, mas de vigor e simplicidade.

A irmã saltita no pátio, já descalça, agitando um ramo do seu chá preferido: “Bela Luisa, como eu!”. Uma osga teme terminado o seu descanso ao sol, contra as grossas paredes caiadas. Ponderada a situação, introduz-se entre as telhas da casa.

- Onde anda o Chanina, avó?