Teimosamente equilibrado num ramo da figueira, Chanina espreguiça ao sol uma caçada proveitosa. Buia-Buia, irrequieto, corre entre o alpendre e o quintal:
-Chanina! Chanina! Acorda!
De soslaio, Chanina observa esta inquietação: “Cão tolo! Ainda é muito cedo! Soube esperar um ano, não sabe esperar um minuto….”. Permanece um tufo laranja entre as mãos verdes e os pingos púrpura que enfeitam a figueira.
Buia-buia, resolvido, avança para o portão:
- Chegaram! Já cá estão!
Pulando ansioso, Buia-buia acompanha alegremente o automóvel que se introduz na estrada de cascas de amêndoa.
Dia quente, como todos os dias quentes, cheiro a alfarroba e terra barrenta, cheiro seco e adocicado, cheiro de infância. O restolhar dos pneus na estrada de cascas, o barulho do motor, e por fim, apenas os latidos de Buia-buia, e as cigarras a cantar ao longe.
- Chegamos! Buia-buia, meu cãozinho!
E uma mão um ano mais crescida afaga-lhe suavemente a cabeça, balançado as orelhas pendentes entre os dedos.
- Adeus, meus netinhos! Adeus!
- Ainda agora chegamos, avó Nuna! Já te estás a despedir?
- É jeito! Tinha tantas saudades vossas! Fizeram boa viagem?
A viagem é sempre longa demais para a impaciência de quem quer voltar. Jorge aprendeu que perguntar se Ainda falta muito? não apressa o caminho, e já não repete vezes sem conta esta frase. Agora, conta os quilómetros, colecciona placas identificativas, alvoroça-se quando “Algarve” aparece.
Finalmente é Verão!
Inspira profundamente, preenche-se de ouro quente.
Os pais abrem a comporta ao desfile de malas e sacos de praia repletos não de toalhas, cremes e baldes, mas de vigor e simplicidade.
A irmã saltita no pátio, já descalça, agitando um ramo do seu chá preferido: “Bela Luisa, como eu!”. Uma osga teme terminado o seu descanso ao sol, contra as grossas paredes caiadas. Ponderada a situação, introduz-se entre as telhas da casa.
- Onde anda o Chanina, avó?